O Carlinhos tinha dois anos e nove meses, tinha cabelo loiro encaracolado e olhos azuis penetrantes. Parecia um querubim saído de uma pintura renascentista.
A sua mãe tinha trinta e três anos e pintava desde os treze, idade em que abandonou a escola.
Um dia, o Carlos decidiu pegar nos pincéis da mãe e deixou a sua imaginação fluir para o papel em branco que se encontrava à sua frente. Ao fim do dia, a mãe entrou em casa, e viu o seu desenho no chão.
—Carlos, copiaste este desenho de algum dos teus livros?
Ele limitou-se a olhar para ela, com os olhos esbugalhados, incrédulo, ao ver que ela não acreditava que tinha sido ele a desenhá-lo.
A sua mãe ficou aborrecida ao ver que o filho, que ainda nem tinha consciência total das suas emoções, era capaz de criar obras dignas se ser expostas no Museu do Vaticano.
Passado uns dias, entrou na sala e viu-o a desenhar, de maneira que deixou de ter dúvidas que o Carlinhos era mesmo sobredotado, o que a deixou ainda mais invejosa.
No mês seguinte tiveram visitas em casa que ao passear pela casa, viram as pinturas expostas e sem saberem que eram do Carlinhos gabaram as pinturas do Carlinhos. A mãe não foi capaz de dizer, por vergonha, que as obras que elas tanto gostavam não eram dela. Não conseguia suportar a ideia que o filho era melhor que ela, que já pintava há vinte anos, de maneira que logo que as visitas saíram deitou fora todos os seus materiais de desenho e pinturas, suas e do Carlos, para que ele nunca mais pintasse e para ela não se deparar com aquelas obras que tão inferior a faziam sentir.
Contudo, ao ter abandonado os estudos cedo e ao ver-se obrigada a desistir daquilo que ela gostava, acabou por ir trabalhar para um super-mercado. O Carlos nunca se apercebeu dos seus dotes à custa da mãe e o mundo perdeu a oportunidade de ter um Tintoretto moderno.
Gosto!
ReplyDeleteDescobri uma "GMT-blogger" particular!
ReplyDelete(A ler os textos abaixo)
hahaha, é verdade Moura! :D Eu já ando a seguir o teu e o da Vivi :)
ReplyDelete