Showing posts with label café. Show all posts
Showing posts with label café. Show all posts

Tuesday, 19 April 2011

The best coffee in New York

De um lado, numa pequena mesa com apenas uma cadeira, sentava-se um homem bem parecido de meia idade, com as pernas cruzadas, a ler um livro, segurando, com a mão livre, um cigarro.
Do outro lado da esplanada, uma senhora elegante, igualmente numa mesa pequena, sozinha a ler uma revista, também com as pernas cruzadas. Havia ali uma certa simetria: cada um no seu canto, a fazer a mesma coisa, com um modo de estar bastante parecido, o fumo do cigarro a ir-lhes para a cara e os óculos escuros a esconder-lhes os olhares.
Entre os dois estavam dois grandes grupos de amigos, felizes e faladores, a desfrutar de uma cerveja fresca apesar do frio.
Um dos grupos levantou-se. Ficou um vazio. Os dois permaneciam afastados por um grupo. Mas com a retirada de um dos “obstáculos” foi notório que os dois se entre olharam, rapidamente voltando a colocar o olhar naquilo que estavam a ler.
A senhora descruzou as pernas, e voltou a cruzá-las.
Entardecia e o sol começava a pôr-se.
O outro grupo começou a desmoronar-se: os amigos despediam-se com grandes abraços, beijos e acenos. O espaço entre os dois rapidamente se desintegrava.
O momento tão esperado aproximava-se. A tensão aumentava. Quem iria dar o primeiro passo? Ela? Ele? Nenhum?
Os últimos dois amigos levantaram-se, abraçaram-se e desimpediram o caminho.
Ainda nem uma palavra tinha sido enunciada e um dos dois já corava.
Ela tirou os óculos de sol. Descruzou as pernas e olhou para aquele homem.
Ele acabou a sua cerveja e virou-se para ela. O seu olhar cinzento azulado deixou-o imóvel. Não tinha outra hipótese a não ser deixar-se mergulhar neles. Não era a primeira vez que ele a via ali, e sempre a tinha achado linda, aliás, ele continuava sem perceber como era possível ela nunca ter companhia.
Ela lambeu os lábios.
O coração dele começou a galopar. Parecia que estava prestes a correr os 100 metros e que o tiro da partida estava prestes a ecoar.
—Parece que, mais uma vez, ficamos só os dois, não é? - deu uma risadinha adorável, continuando a olhar para ele.
Ele era incapaz de emitir qualquer som. Sentiu-se ridículo. A mente dele era um vácuo. As bochechas flamejavam. «Que ridículo, nem as cinco cervejas que bebi fizeram efeito» pensava ele.
Começou a gaguejar, conseguindo, por fim, dizer:
—Sim... parece que as pessoas se vão embora quando o ambiente é melhor – apontando com a cabeça para o pôr de sol.
Ela anuiu. Ainda não tinha desviado o olhar e tinha agora um leve sorriso nos lábios, quase imperceptível, o que contribuía para o seu ar misterioso.
—Costuma estar aqui, não é? Acho que já o vi aqui bastantes vezes.
Já ganhando alguma confiança:
—Sim, gosto de vir para aqui, especialmente ao fim da tarde. É ideal para ler.
—Concordo, e o café é muito bom... Olhe, eu sou a Bárbara.
—E eu o António. Prazer.
Ela finalmente desviou o olhar, e o António percebeu que afinal de contas ele não era o único envergonhado ali.
—Amanhã gostaria de se sentar ao pé de mim, António?
Ele corou até às pontas do cabelo.
—Sim.