Monday, 21 March 2011

Não:

adv. | s. m. (latim non) adv.
1. Partícula negativa oposta à afirmativa sim.
2. De modo nenhum. (É algumas vezes partícula expletiva.) s. m.
3. Recusa; negação.
Plural: nãos."
Devia ser fácil dizer não, não devia? Mas são muitas as vezes que não somos capazes de o dizer.

Saturday, 19 March 2011

Ever tried.
Ever failed.
No matter.
Try again.
Fail again.
Fail better.
Samuel Beckett - Worstward Ho (1983)

Thursday, 3 March 2011

Uvas Inoportunas

Encontrava-me em casa a falar com o meu pai sobre um livro que tinha acabado de ler, quando a minha avó apareceu na sala com uma taça de uvas roxas, talvez de uma cor demasiado viva e com uma casca demasiado brilhante. Nunca fui grande apreciadora de uvas, mas para lhe fazer a vontade, arranquei a que me parecia mais suculenta da taça e meti-a, inteira, na boca. Ao trincá-la, apercebi-me que a sua consistência não era a habitual: havia qualquer coisa felpuda na minha boca, em vez dos caroços que tanto detestava. Enquanto estava a pensar nisto, senti uma dor estonteante e vi-me obrigada a cuspir aquilo que tinha na boca para fora. Para o meu espanto, o que saiu não era uma uva meia mastigada, mas sim uma abelha ainda a mexer as patas. O meu pai ficou tão boquiaberto como eu perante aquele estranho acontecimento mas, apesar de tudo, aquilo tinha aberto o meu apetite, de modo que me levantei e dirigi-me à cozinha. O que vi deixou-me ainda mais surpreendida do que já estava, pois o fogão estava vermelho e com uma chama enorme a irradiar sobre ela. As chamas ondulavam com a brisa que entrava pela janela e quase que pareciam os cabelos da Medusa, a chamar-me e a tentar petrificar-me. Não havia maneira de eu me aproximar mais e desligar o fogão. Aliás, não havia nada que eu pudesse fazer, a não ser fugir com o meu pai e deixar a casa a arder, mas nem isso fui capaz de fazer. A Medusa presente nas chamas tinha-me prendido ali.

Monday, 21 February 2011

Primavera

Hoje quase parecia que a Primavera tinha chegado. Acordei antes do despertador tocar e tenho que admitir que, mesmo assim, me sentia "well-rested". De facto, como não é costume, havia bastante luz a invadir o meu quarto - apesar das persianas estarem bem fechadas - o que fez com que tivesse que lançar um segundo olhar para o relógio para me certificar de que não tinha adormecido, mas não. Eram 7:40 da manhã, e já o sol estava alto no céu. Quando saí de casa vi que as árvores já estavam em flor e não pude evitar sorrir: A estação está a mudar :)

Friday, 18 February 2011

Desassossego

"O comboio abranda, é o Cais do Sodré. Cheguei a Lisboa, mas não a uma conclusão."
Livro do Desassossego

Thursday, 17 February 2011

The Tiger, the Grandmother and the Wardrobe

Sitting at the table, speaking to my great-aunt, I discovered the image I had created of her in my mind was not real. Not even close. It was half past seven, in the evening, and my aunt was eating porridge. I had never thought my eyes would witness such a thing! She started telling me about her youth. She was quite a daredevil! Not at all what I had imagined of her. I myself was not eating, so I excused myself and went “sight-seeing” in her house - I had imagined her as a lonely old lady who sat around knitting all day long but, apparently, I was wrong: her house reminded me of Willie Wonka’s Chocolate Factory - everything was colorful, candy-like. In her bedroom, her wardrobe was open, and I couldn’t help looking in: her clothes were all in fluorescent and extremely vibrant colors, but these were not the clothes I usually saw her wearing... I waltzed back to her dining room, expecting to see my aunt finishing her, rather big, bowl of porridge. What I saw made my eyes almost jump out of their sockets! My aunt who moments before was just another 80-year-old woman, in a grey outfit, was now in a bright yellow sweater and neon-green pants. She looked rather stunning actually. Before my eyes were able to adapt to the colors of her clothes, I felt something tug at my jeans. Hesitatingly, (in case when I looked back up my aunt would be normal again) I glanced down and I was even more amazed. I felt my jaw fall to the floor. My aunt had been telling me about her new pet – I had presumed she meant a cat, but I was wrong, again. A baby tiger was her new companion. Luckily for me, it wasn’t big enough to seriously harm me. I sat down and the tiger leapt onto my lap. I flinched. It licked my face and my nerves were soothed. I turned my gaze to my aunt, who was now wearing a too tight pink skirt and a shockingly red shirt, but before I was even sure about what I was looking at, I felt a sudden burst of pain. I looked down at my pale arm: The tiger was no longer there, and instead, I had a long scratch – I poked it and felt another burst of pain. I closed my eyes. When I opened them, I saw my mother’s pale and freckly face looking down at me, with her hand pinching my arm.
—Wake up sleepy head. It’s time for school!

Tuesday, 15 February 2011

Ingenuidade

As crianças acenaram da janela. Felizes. Felicidade que naquela idade não é difícil alcançar. No início algumas sentaram-se, isoladas, não interagindo com os colegas, nem connosco. Minutos depois já andavam aos pulos à nossa volta. Ingenuidade. Pureza. Acima de tudo, alegria. O que eu não dava para voltar a ter a idade deles e esquecer-me das preocupações que a idade nos traz, mas isso não é possível e, se calhar, é uma mais-valia. No momento de partida, houve crianças que não se quiseram despedir. Agarraram-se a nós, prendendo as nossas pernas. Começaram a fazer as típicas birras de criança: houve crianças que choraram e houve crianças que gritaram. Saímos da sala. Olhámos para dentro momentos depois – as coisas tinham voltado ao normal. Agiam como se nunca lá tivessemos estado. As birras tinham cessado. O choro tinha parado. A única marca de que lá tínhamos estado era a desarrumação.
A felicidade, após uma breve ausência, já se tinha instalado de novo. A memória da nossa visita quase apagada.
9/12/10