Thursday, 24 May 2012

À procura do céu


Quando tinha quatro anos o meu gato morreu. Perguntei à minha mãe para onde é que ele tinha ido e ela disse:
—Para o céu.
Estávamos no quintal, por isso olhei para cima. O céu estava coberto de nuvens.
—É tão cinzento… achas que ele está feliz?
—Estão nuvens porque não querem que vejamos o que prepararam para o Fred. Aposto que se estivessemos para além das nuvens veríamos uma enorme festa. Nesta altura o Fred está a regalar-se com uma quantidade infinita de leite morno. Vais ver que amanhã já está sol outra vez.
—Então no céu vemos e temos aquilo que mais gostamos?
—Sim, querida. Tudo e sempre que queremos.
Passados alguns meses andei de avião pela primeira vez. Não me tinha esquecido daquilo que a minha mãe me tinha dito, então estava certa que quando passássemos para lá das nuvens eu ia ver castelos fantásticos, princesas, fadas e até dragões – estava super ansiosa, aliás, estaria aos pulos se a minha mãe não me tivesse apertado tanto o cinto.
Quando o tão esperado momento chegou, o brilho nos meus olhos extinguiu-se. Era uma terra vasta, branca e vazia. Nesse momento, começei a temer a morte.

1 comment:

  1. Chilling and with that unique sadness of innocence lost that all parents suffer when they see their children going through it. That's why they make up ridiculous stories like heaven. Maybe it would be better if we told stories of the life cycle, so the absence of a cats' heaven wouldn't come as such a shock.

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